JORNALISTICAMENTE FALANDO
JORNALISTICAMENTE FALANDO é um blog que se pretende seja para análises e troca de ideias, partilha de pensamentos e experiências sobre informacoes de interesse geral. Caro visitante, nao hesite em fazer comentarios, porem, faca-o de forma responsavel, pois, so assim poderemos fazer o nosso intercambio Assuntos de grande interesse nacional ocupam lugar de destaque.
Thursday, April 15, 2010
O antigo conceito de “Terceiro Mundo” está ultrapassado, afirma Zoellick
- Uma nova economia global multipolar requer um novo enfoque.
O antigo conceito de “Terceiro Mundo” já não se aplica mais à nova economia global multipolar e é necessário um novo enfoque para levar em conta os interesses dos países em desenvolvimento, afirma Robert B. Zoellick, Presidente do Grupo Banco Mundial.
Em discurso antes das Reuniões da Primavera Setentrional do Banco Mundial, Zoellick afirmou que a crise econômica global de 2009 e o surgimento de países em desenvolvimento na economia global foram o dobre de finados do antigo conceito de Terceiro Mundo como entidade separada, tal como 1989 foi o fim do Segundo Mundo do Comunismo. Isso tem profundas implicações para o multilateralismo, acção cooperativa global, relacções de poder, desenvolvimento e instituições internacionais, tais como o Grupo Banco Mundial, e implica enfocar os problemas sob uma nova perspectiva.
“Há décadas os estudiosos da segurança e política internacional vêm debatendo o surgimento de um sistema multipolar. É chegado o momento de reconhecer um novo paralelo econômico. Se 1989 presenciou o fim da ‘Segunda Guerra’ com o desaparecimento do comunismo, 2009 viu o fim do que era conhecido como o ‘Terceiro Mundo’. Estamos agora em uma nova economia mundial multipolar e em rápida evolução”, disse Zoellick em discurso no Woodrow Center for International Scholars em Washington, D.C., no qual lembrou aos presentes que alguns consideraram as ações do ex-Presidente dos Estados Unidos como uma oportunidade perdida. “Não podemos dar-nos ao luxo de continuar a geopolítica costumeira.
A pobreza continua e deve ser enfocada. Estados fracassados permanecem e devem ser enfocados. Os desafios globais se estão intensificando e devem ser enfocados. Mas a maneira de enforcarmos estas questões está mudando”, afirmou Zoellick. “As categorizações ultrapassadas de Primeiro e Terceiro Mundos, doadores e suplicantes, dirigentes e dirigidos, não se enquadram mais.”
Embora a pobreza e os Estados frágeis tenham persistido como desafios a superar, os países em desenvolvimento cresceram a ponto de representar uma parcela cada vez maior da economia global e proporcionar uma importante fonte de demanda na recuperação da recente crise econômica global. Isso ocorreu não somente na China e na Índia, mas também no Sudeste asiático, América Latina e Oriente Médio. A África poderá também um dia tornar-se um polo do crescimento global. Zoellick observou que, portanto, os países em desenvolvimento merecem maior reconhecimento na gestão do sistema global e que as soluções propostas em matéria de regulamentação financeira, mudança climática e gestão de crises devem refletir seus interesses. É importante reconhecer as implicações da nova economia mundial multipolar para a cooperação multilateral e resistir às forças gravitacionais que estão trazendo um mundo de Estados-nação de volta à busca de interesses mais estreitos, disse Zoellick.
O poder traz responsabilidade. Os países em desenvolvimento precisam reconhecer que agora fazem parte da arquitetura global”, afirmou Zoellick.
Como consequência do enorme prejuízo causado pela ruptura do sistema financeiro, é evidente que o mundo precisa de uma melhor regulamentação financeira, com padrões melhores e mais sólidos de capital, liquidez e supervisão, disse Zoellick. “No entanto, devemos acautelar-nos contra consequências não premeditadas”, advertiu. “Não devemos aumentar os custos incentivando o protecionismo financeiro ou restringindo injustamente os serviços financeiros às pessoas de baixa renda. As regulamentações acordadas em Bruxelas, Londres, Paris ou Washington poderiam funcionar para os grandes bancos no mundo desenvolvido. Mas o que dizer a respeito de bancos menores, quer estejam em países desenvolvidos ou em desenvolvimento?”
A mudança climática representa outro desafio no qual o enfoque de “tamanho único” imposto pelo mundo desenvolvido não funciona para os países em desenvolvimento, disse Zoellick. “A política de mudança climática pode estar vinculada ao desenvolvimento e conseguir o apoio dos países em desenvolvimento para o crescimento com baixa emissão de carbono – mas não se for imposta como camisa de força”, disse ele. “Os países em desenvolvimento precisam de apoio e financiamento para investir em vias de crescimento mais limpo. Um bilhão e seiscentas mil pessoas carecem de acesso à eletricidade. Embora tenhamos de cuidar do meio ambiente, não podemos destinar as crianças africanas a fazerem o dever de casa à luz de vela ou negar a trabalhadores africanos empregos no setor manufatureiro. O desafio é apoiar transições para uma energia mais limpa sem prejudicar o acesso, produtividade e crescimento que podem tirar da pobreza centenas de milhares de pessoas.”
Uma terceira área em que o antigo pensamento não se aplica e na qual se deve atribuir maior consideração aos interesses dos países em desenvolvimento é a resposta às crises econômicas. “Em um mundo em transição, o perigo é o fato de os países desenvolvidos focarem as cúpulas de sistemas financeiros ou se concentrarem na má gestão dos países desenvolvidos, como é o caso da Grécia, disse Zoellick. “Ouvir o ponto de vista dos países em desenvolvimento não é mais simplesmente uma questão de caridade ou solidariedade: É uma questão de autointeresse. Esses países em desenvolvimento são agora fontes de crescimento e importadores de bens de capital e serviços dos países desenvolvidos.”
As mudanças na economia global e no sistema multilateral têm implicações significativas para o Banco Mundial, afirmou Zoellick. O desenvolvimento deixou de ser Norte-Sul e passou a ser Sul-Sul e Sul-Norte. O Banco Mundial deve adotar uma política de reforma constante, mudando para adaptar-se a circunstâncias em rápida evolução, a fim de melhor atender aos interesses das pessoas de baixa renda no mundo em desenvolvimento. Em sua reunião na primavera setentrional a instituição espera anunciar uma mudança que dê aos países em desenvolvimento pelo menos 47% das ações com direito a voto, juntamente com o primeiro aumento depois de mais de 20 ano de seu capital, o que fortalecerá um balanço que permitiu destinar mais de US$ 100 bilhões à assistência financeira desde julho de 2008. Isso será acompanhado do programa de reforma mais abrangente na história da instituição, desde maior acesso à informação a melhorias nas políticas creditícias.
Lembre-se que o conceito do Terceiro Mundo foi inventado pelo demógrafo Francês Albert Sauvy, em 1952.
Wednesday, April 14, 2010
Mozambique: Many Citizens Still Ignorant About Aids
Maputo - A new national survey on HIV and AIDS "destroys the myth that everybody already knows about AIDS", Mozambican Health Minister Ivo Garrido declared on Thursday.
Although there has been an increase in knowledge over the past few years, the survey, he noted, shows "that the majority of Mozambicans still do not possess the indispensable minimum of knowledge".
"It is crucial to step up health education", urged Garrido, "since a large percentage of Mozambicans still don't know what we regard as basic".
He was speaking at a meeting unveiling the preliminary results of the National Survey on Prevalence, Behavioral Risks and Knowledge about HIV and AIDS in Mozambique (INSIDA).
The survey, undertaken jointly by the Ministry of Health and the National Statistics Institute (INE) in 2009 took a sample from across the country of 6,097 households, in which 6,413 women aged between 15 and 64, 4,799 men of the same age group, and 2,016 adolescents aged between 12 and 14 were interviewed.
The survey showed that the vast majority of the sample had heard about HIV and AIDS - over 95 per cent amongst all those over the age of 15, but falling to 84 per cent among 12 year olds.
Yet, despite massive advertising campaigns, around a quarter of the population is still unaware that the use of condoms can prevent HIV infection. Even more surprising is the large number, particularly of women, who did not know that abstinence from sexual relations is a way of avoiding AIDS.
Thus only 57.2 per cent of women aged 15-24 and 63.2 per cent of men in the same age group understood that abstinence eliminates the risk of HIV infection.
Worse still, only around a third of adults have an acceptable level of general knowledge about HIV and AIDS - that is, they know that condom use and fidelity to one, uninfected sexual partner can reduce the risk of HIV transmission, they know that an apparently healthy person can be carrying the HIV virus, and they reject the two most common misconceptions about AIDS (that the disease is spread by mosquito bites, or by supernatural means).
Only 35.7 per cent of women aged 15 to 24 responded correctly to all of these points, and 33.7 per cent of 15-24 year old men. Some of the older age groups are even less informed. Only 25.9 per cent of women aged
40-49 had the correct combination of knowledge.
In general, people in the countryside are much less knowledgeable about AIDS than those living in the cities. 40.2 per cent of urban women and
46 per cent of urban men had acceptable general knowledge about the disease, compared with 27.8 per cent of rural women and 29 per cent of rural men.
As for the battle against stigma and discrimination against HIV-positive people, the great majority of correspondents in all age groups said they would be prepared to take a relative infected with HIV into their own home and look after him or her. Rather fewer, but still over two thirds of the sample, believed that HIV-positive teachers should continue teaching. About two thirds also said they would be willing to buy vegetables from an HIV-infected vendor.
But when it came to breaking the silence surrounding AIDS, the great majority rejected the idea, and insisted that the HIV-status of their relatives should be kept secret. Less than 40 per cent of the sample, in all age groups, both men and women, believed that there was no need to keep the illness of an HIV-positive relative a secret.
Despite the stress by AIDS campaigners on the need to delay the onset of sexual activity, the survey found that around a quarter of the respondents had experienced sexual relations before the age of 15.
25 per cent of urban men began their sex life before they were 15 - exactly the same figure as found by the last comparable survey, the Demographic and Health Survey of 2003. The number of women who embarked on sexual relations before the age of 15 in the cities fell slightly - from 21 per cent in 2003 to 20 per cent in 2009.
There was a greater fall in rural areas - from 33 to 29 per cent among women, and from 28 to 25 per cent among men.
Among the 12 to 14 year olds, the great majority had not had any sexual relations. But 14.8 per cent of the 14 year old girls admitted to sexual relations with one partner and 3.8 per cent with two or more partners.
2.8 per cent of the 12 year old girls had had sex - one per cent with more than one partner.
Of those who had multiple sexual partners in the 12 months prior to the survey, only 23 per cent of the women and 20 per cent of the men said a condom had been used the last time they had sex.
Four per cent of urban women and 2.5 per cent of rural women reported multiple partners. But for men the figures were 22.4 per cent in the cities and 18.1 per cent in the countryside.
This huge difference cannot be accounted for by a large number of men using the services of a small number of prostitutes, since only eight per cent of the male sample admitted to paying for sex in the previous
12 months.
For reasons that have yet to be explained, paying for sex is most prevalent in the north of the country - 36.8 per cent of men aged 15 to
64 in Cabo Delgado province, 16.3 per cent in Niassa and 12.6 per cent in Nampula said they had paid for sex. Even in Maputo city the figure was only 7.9 per cent, and in every other southern or central province it was less than five per cent.
As for HIV testing, only 31 per cent of the women and 16.6 per cent of the men had ever taken a test. Thus the great majority of Mozambicans have no idea what their HIV status is.
The lead researcher on the survey team, Dr Francisco Mbofana, said the HIV prevalence rates are still being worked out from the blood samples taken during the survey. He hoped to publish these results by June.
INSIDA is the first truly national survey of HIV prevalence. Previous estimates of HIV prevalence come from epidemiological surveillance rounds limited to sentinel sites - health units where the blood of pregnant women is tested. There are mathematical methods to extrapolate these results to the general population, and the latest round, in 2009, gave an estimated HIV prevalence rate of 15 per cent among people aged between 15 and 49.
Thursday, February 18, 2010
Economia destaca ‘melhor jornalista’ da África Lusófona
Julho 25, 2007 at 4:53 pm | In Media & Jornalismo | Leave a Comment
Arão Valoi, jornalista moçambicano que trabalha para o semanário ‘Meia Noite’, recebeu, no sábado passado, na Cidade do Cabo – África do Sul –, o prémio de melhor jornalista africano de expressão portuguesa, apresentando, para o efeito da apreciação do júri, uma reportagem sobre as debilidades da integração económica em África. Na verdade, há vários actores políticos do continente que andam a batalhar a favor da integração das economias regionais africanas, quando, na verdade, deviam estar mais preocupados com a consolidação e a sustentabilidade das suas economias domésticas, a defesa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e a luta a favor da paz e da estabilidade social. A ideia dos Estados Unidos da África, como alguns andam a propor, é muito precipitada, uma vez que, a união económica africana não seria sustentável, se as partes não se apresentassem como economias sustentáveis. Portanto, parece que há muito trabalho para ser feito, a nível nacional, para depois os políticos africanos pensarem numa união económica, que não comporte as fragilidades que grande parte das economias africanas comporta hoje em dia. Relativamente aos Prémios de Jornalismo Africano CNN Multichoice 2007, destacamos ainda que a distinção de Melhor Jornalista foi para a Uganda, onde foi galardoado o jornalista Richard Kavum
http://nosmedia.wordpress.com/2007/07/
Banco de Desenvolvimento em Mocambique: O secretismo da Banca Comercial
Arão Valoi
Desde que em Setembro de 1997 foi privatizado o Banco Popular de Desenvolvimento (BPD), com quase 200 milhões de Meticais de crédito malparado, o país ficou sem um banco com competências e com experiências cristalizadas para o financiamento ao desenvolvimento. Começaram a surgir sérios debates sobre a necessidade de criação de um novo banco com características e vocação semelhantes àquele. A ideia já criou diversas reacções. O Governo diz que está a ponderá-la. O sector privado está a pressionar, uma vez que sente falta de instrumentos financeiros para a materialização dos seus projectos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) manifesta-se contrário, uma vez que pensa que, à semelhança do BPD, esse banco poderá ser usado pela elite política para a obtenção de fundos para fins obscuros. A banca comercial diz apoiar a iniciativa, mas também têm estado, em surdina, a contestar a sua criação, uma vez que teme que se gere uma situação de concorrência, já que diz ter certeza que as taxas de juro terão de ser concessionais.
Já há muito que se debate a re-invenção do Banco Popular de Desenvolvimento, privatizado em 1997. Empresários e economistas acreditam que, por causa dos condicionalismos impostos pela Banca Comercial, aliados à sua incapacidade em cobrir necessidades financeiras avultadas, nomeadamente, financiamentos a infra-estruturas, concessão de crédito agro-pecuário, o país deveria institucionalizar um mecanismo mais prudente que servisse para financiar projectos de grande envergadura, vitais para o desenvolvimento do País.
Mas no meio destes debates, há quem discorde, embora em surdina, da criação desta instituição financeira. É a banca comercial. E o receio é lógico. Teme-se que este novo banco que, “terá de praticar taxas de juro concessionais”, segundo Magid Osman, ex-PCA do BCI/Fomento, trave um efeito concorrencial fora do comum e que retire da banca comercial, grande parte dos seus negócios.
Aliás, Osman fez um estudo, diga-se, profundo sobre este assunto. No estudo, na posse do Jornalisticamente falando, nota-se alguma indignação por parte daquele economista, sobretudo quando afirma que “...o Banco de Desenvolvimento teria de competir com a banca privada na mobilização das poupanças nacionais limitadas e, para o efeito, teria de remunerar as mesmas a taxas muito próximas das do mercado
Em consequência, as taxas de juros a praticar na concessão de empréstimos seriam ligeiramente inferiores às dos bancos comerciais, tornando-as incomportáveis para o financiamento de infra-estruturas”.
Magid mostra outros argumentos para fazer valer o seu “não” a este banco. Tal como escreve, “a banca moçambicana (comercial) também tem vindo a financiar as empresas privadas e públicas moçambicanas, aumentando constantemente a taxa de conversão de depósitos em empréstimos e, em certos casos, os financiamentos são de montantes elevados como é o caso do financiamento a importadores e distribuidoras nacionais de combustíveis e, para o efeito, os bancos locais têm de obter garantias externas”.
O ex-PCA do BCI/Fomento afirma que “obviamente, a justificação para a criação de um Banco de Desenvolvimento não pode ser a de que os outros países também o têm, pois pode-se contra-argumentar que existem muitos países que não o têm. Além disso, muitos dos bancos referidos são de países desenvolvidos e têm por objectivo canalizar a ajuda externa, que não é o caso de Moçambique, e outros reflectem as circunstâncias históricas do momento pelo que não podem ser pura e simplesmente copiados”. Acrescenta que o referido banco não pode ser usado como panaceia para os problemas de desenvolvimento de Moçambique. “Para alguns, o Banco de Desenvolvimento poderá ser a solução para muitos problemas críticos do nosso processo de desenvolvimento, na convicção de que a ausência de créditos facilitados constitui “per si” maior obstáculo ao desenvolvimento acelerado e sustentado.
A ausência de instrumentos especiais que facilitem o acesso a recursos financeiros é, de facto, um dos problemas que urge resolver, mas não é único e, se calhar, nem é o mais estratégico pois, mesmo resolvendo este (o de crédito), os outros ficarão por resolver”, escreve Magid Osman alertando que “se um banco for criado com estas expectativas – o de panaceia para outros problemas críticos de desenvolvimento, então a sua criação é certamente um erro, pois os outros factores críticos não serão tratados atempadamente, exacerbando, entretanto, os problemas da pobreza rural, de desigualdade regional, de ausência de um empresariado nacional, etc.. cuja solução, no futuro, se tornará mais difícil e complexa”.
Um banco para financiar as infra-estruturas?
“Habitualmente, os bancos de desenvolvimentos estão associados aos financiamentos concessionais para infra-estruturas públicas ou privadas ou para grandes projectos. No caso particular de Moçambique, alguns dos defensores de um banco de desenvolvimento estão conscientes que o banco pretendido não é desse tipo”, insiste Osman e passa a explicar: “indiscutivelmente, Moçambique tem grande carência de infra-estruturas económicas e sociais – de barragens, regadios, estradas, escolas, hospitais, rede electrificada etc., quer geridas pública ou pelo sector privado.
As nossas taxas de crescimento económico dos últimos anos só foram possíveis porque a formação bruta de capital fixo atingiu em média os 25% do PIB, representando o investimento público cerca de metade desse valor. Isto é, o Estado tem vindo a investir cerca de 12.5% do PIB em média nos últimos anos, ou seja, um montante situado entre 400 a 500 milhões de USD/ano.
Sendo o investimento público, na sua quase totalidade, financiado pela “ajuda externa”, poderá um Banco de Desenvolvimento substituir-se ao apoio da comunidade internacional ou, numa versão minimalista, complementar o esforço actual, acelerando assim o processo de construção de infra-estruturas”?, questiona.
Logo de seguida, Magid explica que “ignorando para já a problemática sobre a capacidade de absorção, de gestão e sobretudo da manutenção de mais infra-estruturas, concentremos na questão simples mas importante sobre a origem de fundos, dos 400 a 500 milhões de USD/ano. Poderão os fundos necessários resultar de poupanças nacionais ou do Orçamento do Estado, ou de uma combinação destas duas fontes?
Nos últimos dois anos, a captação de poupanças (aumento de depósitos mais emissão de títulos de dívida pública e de particulares com excepção dos subscritos pelos bancos) pelo sistema financeiro, terá sido em média da ordem dos 250 Milhões de USD/ano, portanto, muito longe dos 400 a 500 milhões de USD de investimento público anual, para além da questão da concorrência que seria travada entre a banca comercial e o de desenvolvimento na captação dessas poupanças”.
Casos extremos vs. consequências
Para Magid Osman, mesmo numa situação extrema de os juros serem assumidos total ou parcialmente pelo Orçamento Geral do Estado, será necessário amortizar o capital mutuado para garantir a integridade das poupanças e são poucos os investimentos em infra-estruturas que podem assegurar a amortização do capital mutuado. Por outro lado, escreve ele, o uso de poupanças nacionais para financiar as infra-estruturas pela via do Banco de Desenvolvimento teria as seguintes consequências:
● Reduziria substancialmente os fundos disponíveis para a concessão de empréstimos pelos bancos comerciais ao sector privado, tornando o processo de atribuição de crédito ainda mais selectivo e elevando significativamente as taxas de juro, pois a oferta de crédito reduzir-se-ia dramaticamente ;
● O financiamento de infra-estruturas por poupanças internas aumentaria a pressão sobre o metical pois, uma parte dos investimentos em infra-estruturas são em divisas e, sem o financiamento externo, o défice da balança de pagamentos seria agravado, quase que forçando o país a voltar ao regime antigo de decidir a afectação das escassas divisas pela via administrativa;
● Finalmente, o Orçamento Geral do Estado não tem capacidade para financiar um Banco de Desenvolvimento na dimensão referida, isto é, como provedor de meios financeiros nem mesmo para assumir o serviço da dívida, pois ainda tem muitas necessidades por satisfazer, como é o caso, por exemplo, da manutenção das infra-estruturas.
Wednesday, February 17, 2010
Child Help Line em preparação ao Mundial 2010
O assunto do Mundial 2010 é tão sério e preocupante que levou a que um conjunto de organizações da sociedade civil moçambicanas, em parceria com o Ministério da Mulher e da Acção Social e a CHI, desenvolvesse um conceito para a formulação de uma linha de ajuda à criança. Designada “Child Help Line”, a iniciativa vem sendo desenvolvida desde 2005, envolvendo organizações como a Rede Came, o Ministério da Mulher e da Acção Social, a Save the Children Suécia, a Save the Children Moçambique, a Rede da Criança, a Plan Mozambique e a Child Help Line da RSA. De resto, é uma linha que irá providenciar um serviço gratuíto de recepção de denúncias de violação dos direitos humanos, particularmente dos direitos das crianças, oferecer aconselhamento sobre medidas a tomar, berm como providenciar os serviços aconselháveis para a mitigação do problema. A nível internacional, esta é uma ideia que surgiu de uma recomendação por parte da UNVAC, uma organização das Nações Unidas contra a Violência as Crianças, a qual diz, no seu número 8 que, “rrecomendo que os Estados disponibilizem serviço, bem publicitados, confidenciais e acessíveis para as crianças e seus representates e outros para denunciarem casos de violencia contra crianças. Todas as crianças, incluindo aqueles sob custódia da justiça, devem conhecer da existência de mecanismos de participação de queixas. Mecanismos como os Telefones de Ajuda (helplines) por meio dos quais as crianças podem reportar casos de violência, falar com conselheiros e pedir ajuda, devem ser criados incluindo o recurso à novas tecnologias de comunicação”. Segundo Carlos Manjate, Coordenador da Rede Came em Moçambique, uma rede de organizações contra o abuso de menores em Moçambique, criada à luz das recomendações de Estocolmo em 1996, “esta iniciativa também constituirá uma oportunidade para registar dados estatísticos que podem espelhar a tipologia dos casos, lugar de ocorrência, dados do perpetror, bem como os da vítima”. Manjate indicou que o sistema a ser introduzido estará equipado de um software que permitirá que estas operações se realizem com alguma facilidade. Para já, já foram treinados os operadores do sistema, que incluem uma vasta rede de conselheiros psico-sociais. Trata-se de um resultado de uma forte parceria com a Child Helpline International, organização que opera neste sistema a vários ano, implementando-o em diferentes paises e usando tecnologias também diferenciadas, que vão desde o telefone, como será em Moçambique, Internet, casos da Tailândia, Rádios Comunitárias, caso da Namíbia, Websites, casos da Holanda e Dinamarca ou então englobando todas estas componentes numa única Child Help Line. O Coordenador da Rede Came enalteceu a importância que esta iniciativa poderá assumir em Moçambique, um País que carece ainda de estudos detalhados sobre o fenômeno de tráfico de menores, incluíndo estatísticas sobre o assunto. O número para aceder aos serviços da “Linha Fala Criança”, como é chamada em Moçambique deverá ser fácil, em recomendação da CHI e ao acordo celebrado com a União Internacional para as telecomunicações. Desse modo, o 116 é usado em muitos dos países que já aderiram a iniciativa e deverá ser seguido em Moçambique.
A página negra que o mundial vai abrir para a SADC
Este ano, a “Nação Arco Irís”, a África do Sul, vai acolher o Campeonato de Mundo em Futebol, prova que se realizará, pela primeira vez, no continente africano. Mil razões para todos os países da região sorrirem, afinal a indústria turística poderá conhecer o seu auge, o que é bom do ponto de vista de receitas financeiras. Moçambique, por exemplo, espera receber mais de 100 mil turistas. E já começou a organizar a indústria hoteleira e a projectar os encaixes financeiros. Estimativas indicam que os países da SADC, sem contar com RSA, receberão cerca de 500 mil turistas. Mas nem tudo vai ser um “mar de rosas”, já que espera-se que, com este turismo, o tráfico de crianças e de mulheres também aumente, para alimentar, quer o turismo sexual, em zonas como Kwazulu Natal, Durban e Cape Town, quer o trabalho barato nas farmas, bares, restaurantes, guest houses e hoteis naquele país, o que acontecerá como uma resposta “natural” ao evento de 2010.
Mais de duas mil crianças, a maioria das quais do sexo feminino, e mulheres são traficadas por ano em Moçambique. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), na região da SADC, o número atinge cerca de duzentas mil por ano. Os destinos são variados, mas a África do Sul, o íman da região, ocupa o primeiríssimo lugar. Por exemplo, os dados da Child Helpline International (CHI) revelam que mais de 50% das crianças traficadas na região da SADC, destinam-se a RSA. Para o caso de Moçambique, o consenso em relação a este destino é generalizado. Espera-se que, com o advento do Mundial 2010, estas cifras aumentem de forma estrondosa, uma vez que a astúcia dos traficantes os leva a agir em situações de muita agitação e azáfama, ou então em casos de calamidades naturais, desastres ou situações de emergência. “Não podemos prever quantas crianças e mulheres serão traficadas, mas a verdade manda-nos dizer que os números vão aumentar, por isso teremos de ser mais cuidadosos e vigilantes”, afirma a Gestora de Programas da CHI para África, a queniana Alice Mapenzi Kubo.
De acordo com Kubo, o tráfico de crianças e mulheres constitui uma actividade comercial a nível global, orientada pela procura, com um mercado enorme para mão-de-obra barata e sexo comercial, confrontado, muitas vezes, por quadros legislativos e políticas reguladoras insuficientes ou não experimentadas e sem pessoal adequadamente treinado para lhe fazer frente.
As revelações da Alice Kubo não surgem ao acaso. Pesquisas das Nações Unidas (NU) revelaram que “a escravatura de hoje” prospera devido ao alto nível de lucros. Segundo o relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Seduction, Sale and Slavery:Trafficking in Women and Children for Sexual Exploitation in Southern Africa, publicado em 2003, esta indústria produz entre entre 7 a 10 mil milhões de dólares ao ano, colocando-se em terceiro lugar em termos de nível de lucros a seguir ao comércio de armas e ao narcotráfico.
Mas ao mesmo tempo, os estados da região, a um nível mais nacional, pouco tem feito para combater o tráfico de pessoas. Por exemplo, dos onze países membros da Southern Africa Network Against Trafficking and Abuse of Children (SANTAC), uma Rede Regional contra o Tráfico e Abuso de Menores, mais da metade ainda não possui instrumentos reguladores desta matéria e quando há casos de tráfico evidentes, debatem-se com a falta de enquadramento legal, acabando por deixar impunes os traficantes. A falta de uma tipificação “criminosa” para casos de tráfico é, de resto, um dos grandes constrangimentos na região. Neste aspecto, Moçambique avançou bastante, uma vez ter já aprovado, por consenso parlamentar, uma Lei Específica contra o tráfico. No caso do crime de tráfico de pessoas, o executivo moçambicano entende que esta Lei deve admitir que o Ministério Público ou qualquer pessoa que tenha conhecimento do facto possa denunciar e prosseguir a acção criminal contra os autores do mesmo. Esta Lei e a sobre o Tráfico de Pessoas, em particular de Mulheres e Crianças, tem por objecto estabelecer o regime jurídico aplicável à prevenção e combate ao tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças, nomeadamente a criminalização do tráfico de pessoas e actividades conexas e a protecção das vítimas, denunciantes e testemunhas.
Das possíveis rotas às razões do tráfico
Uma avaliação levada a cabo pelo jornalisticamente falando, associado a estudos e outras evidências empíricas, mostrou que duas operações distintas de tráfico de pessoas fazem uso de três rotas diferentes para transportar as vítimas de Moçambique para a África do Sul. Segundo um relatório intitulado “Tráfico de Pessoas em Moçambique: Causas Principais e Recomendações” publicado pela UNESCO em 2006, a primeira rota usada é para Gauteng através de Ressano Garcia (fronteira comum). Com base na pesquisa efectuada de Janeiro a Fevereiro de 2006, de um total de 2.560 pessoas traficadas, 1282 mulheres e 563 crianças foram contrabandeadas para a África do Sul através da fronteira dos Libombos ou de Ressano Garcia.
A segunda rota de tráfico que introduz mulheres, tanto para as províncias de Gauteng como do KwaZulu-Natal atravessa a fronteira de Ponta de Ouro para a África do Sul. O transporte continua então para o sul da Suazilândia e directamente para Joanesburgo e Pretória, ou rumo a sul em direcção a Durban e Pitermaritzburg. Pensa-se que a facilidade de acesso por parte dos traficantes a estas rotas seja resultado da sua ligação com grupos criminais organizados que negoceiam outras mercadorias como por exemplo viaturas roubadas.
Em terceiro lugar, as rotas no interior de Moçambique incluem tipicamente a entrada para o norte do país através da Tanzânia e/ou do Malawi por pessoas que vêem da região dos Grandes Lagos Africanos e da África Ocidental. Outros, que porventura viajem por mar, podem desembarcar nos portos moçambicanos antes de continuarem a jornada por terra. Ainda no interior do País, grande destaque vai para as fronteiras entre Moçambique e Zimbábwe, nomeadamente em Manica e Gaza. A fronteira de Chicualacuala, em Gaza, é descrita como sendo das mais vulneráveis. Em todas as quartas-feira, um comboio de passgeiros ligando estes dois países cruza esta fronteira e transporta milhares de pessoas, regra geral pouco controladas. Há evidências de que algumas sejam vítimas de tráfico. O exemplo elucidativo é o das três meninas que em 2008 foram encontradas perdidas na região de Chókwè, na mesma província, depois de se terem escapolido do comboio na estação central em Chókwe, onde este transporte pára por muito tempo durante a noite. O destino era incerto, mas havia sérias indicações de que era a África do Sul.
O íman regional
Moçambique é somente um dentre um número estimado de 10 países, nomeadamente, Angola, Botswana, RDC, Lesotho, Malawi, Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwé (agravado pela crise política e económica) que abastecem o mercado de tráfico de pessoas que fornece a África do Sul, o íman regional. Um relatório sobre o tráfico de crianças na África do Sul, apresentado pela organização Molo Songololo no ano 2000, sugere que existem mais de 20 mil crianças trabalhadoras, muitas delas refugiadas moçambicanas, a trabalhar em fazendas agrícolas onde recebem pagamentos miseráveis e trabalham em troco de alimentação
e alojamento. A Molo Songololo é uma organização Sul-africana que, desde os anos do Apartheid, possui publicações sobre tráfico de crianças na RSA. Passam já oito anos depois da publicação deste relatório, o que sugere que os números podem ser bem maiores. De acordo com a OIM em Pretória, 25% das prostitutas da Cidade de Cabo são crianças e provém de diferentes países da região. A OIM acrescenta que “a África do Sul pode oferecer alojamentos e estruturas de primeiro mundo, e isso chama a atenção do turismo ocidental e, infelizmente, também do turismo sexual”.
Mas o que terão feito essas crianças e mulheres para serem traficadas ou para merecerem tal destino? Esta é uma questão recorrente. Mas nunca foi encontrada uma resposta satisfatória, ou seja, que pelo menos justificasse tanta barbaridade. Há meses, questionava-se, em Moçambique, o que teriam feito as raparigas que foram traficadas pela famosa Diana, também moçambicana, para África do Sul, onde foram sexualmente escravizadas numa vivenda luxuosa em Santon. Nada! Descoberta por um moçambicano residente na mesma região, o caso acabou sendo do domínio popular e a Diana teve que ser presa pela polícia sul-africana, estando agora em julgamento. Mas pesquisas feitas chegaram, quase todas elas, às mesmas constatações: que a pobreza é a principal força motriz desta actividade comercial, empurrando as pessoas marginalizadas para as mãos dos traficantes. O HIV/SIDA, as calamidades naturais, também são outras causas, bem como a descriminação baseada no género, as práticas culturais e o fenômeno da emigração para a “terra do rand”, principalmente na região sul de Moçambique
Tentar cortar o mal pela raíz
“Cortar o mal pela raiz seria criar condições para que as pessoas não se sintam afectadas pela pobreza, seria criar o “empowerment” da mulher, seria permitir que todos os direitos das crianças fossem respeitados, desde o direito à educação, até ao direito a brincar; seria criar condições para que os órfãos de parentes vítimas de HIV/SIDA fossem considerados e tivessem o devido acompanhamento”, afirma a representante da CHI.
Mas isso dificlmente acontece, principalmente porque as políticas governamentais não assumem esses aspectos como prioritários. Mesmo sabendo das dificuldades que terão de enfrentar, nomeadamente, no concernente a questão da legislação, muitas organizações da sociedade civil, em parceria com a SANTAC, já estão a desenvolver esforços para sensibilizar os seus respectivos governos a incluir a questão do tráfico, como um “cross-cutting issue”, na preparação que está a ser feita para o Mundial 2010.
“Não devem olhar apenas aos ganhos referentes ao turismo, mas também que olhem para esta questão social”, disse Tonniete Marrengula, uma activista social. Pena é que se trate de uma acção que apenas envolve organizações da sociedade civil, cujas decisões não assumem carácter vinculativo, servindo apenas como grupos de pressão. Os Governos regionais, que possuem todos os mecanismos, incluindo os legais, bem como elevada manobra de pressionar o “legislativo” a aprovar leis com maior celeridade, tem sido os grandes ausentes nestes debates. “E mesmo que haja interesse por parte das Organizações da Sociedade Civil (OSC), isto não será fácil porque os criminosos continuarão impunes, enquanto não existirem leis para o efeito. E o mundial está já à porta”, acrescenta a nossa fonte.
Foi para debater essa questão e preparar possíveis cenários para prevenir o tráfico durante o Mundial 2010 que a SANTAC região africana esteve reunida em Maputo, nos princípios de Dezembro de 2009, tendo aproveitado o momento para apelar a toda a sociedade da SADC para que fique cautelosa durante a copa do mundo. A Organização Internacional para as Migrações (OIM), por exemplo, está a desenvolver programas que visam combater o tráfico de pessoas em Moçambique. O Programa de Assistência contra o Tráfico na África Austral (SACTAP), da OIM tem como objectivo prevenir o tráfico de pessoas e prestar assistência necessária às pessoas traficadas a nível da SADC. Ao mesmo tempo, o programa apoia os intervenientes governamentais e não governamentais a desenvolver as suas capacidades com vista a combater efectivamente o tráfico humano. Nelly Chimendza, Coordenadora do Projecto da OIM tem estado a organizar seminários de capacitação ao longo das regiões do País, envolvendo a Polícia da República de Moçambique (PRM) e os educadores sociais. Muito recentemente, a OIM organizou duas capacitações, tendo sido um em Maputo e o outro em Gaza, duas províncias do Sul de Moçambique. Espera-se que um terceiro se realize na região centro do País. A OIM em Maputo tem estado a dar todo o acompanhamento das vítimas de tráfico na região.
Sunday, January 31, 2010
O “Leao” tem que virar Papai Noel
A auto-sustentabilidade das autarquias é um tema controverso. Há correntes defensoras da teoria segundo a qual estas entidades nunca se tornarão auto-sustentáveis do ponto de vista financeiro, uma vez que tem poucas fontes de proveniencia de receitas. Acresce-se a isso o facto de haver um aparente conflito entre o destino que é dado aos impostos cobrados nos territórios municipais. Regra geral, o Estado sai a ganhar, porquanto, grande parte dos impostos cobrados nos territórios autárquicos vão para os cofres daquele. Outros ainda defendem que há possibilidade de as autarquias se tornarem auto-sustentáveis, bastando explorar na íntegra as oportunidades de geração de receitas que as cidades fornecem. Mas há, dentro deste debate, quem aponte factores de ordem estrutural. De que lado mora a razão?
Contexto situacional
O número 1 do artigo 276 da Constituição da República fixa que “as autarquias locais tem finanças e património próprios”. Este dispositivo legal e demais legislação autárquica (com destaque para a Lei 2/97 de 18 de Fevereiro) estabelecem também que “os municípios estão sujeitos à tutela administrativa do Estado, gozam de autonomia financeira, administrativa e patrimonial”.
Entretanto, tal não passa de declaração de intenções políticas, uma vez que, segundo João Baptista dos Santos, jurista e docente universitário, “estas estratégias programáticas estão condicionados por um quadro dominado pela escassez e rigidez de recursos a nível nacional e por um sistema orçamental e fiscal concentrado e centralizado”. Aliás, terá sido por isso que o estudo da Metier, uma empresa de consultoria e desenvolvimento, intitulado “Perfil dos Municipios em Moçambique (2004) refere que “o padrão actual das receitas autárquicas é bastante concentrado e dependente das transferências do Estado” no contexto do Fundo de Compensaçã Autárquica (FCA) (previsto no artigo 40 da Lei das Finanças autárquicas e “à excepção de alguns impostos locais, a actividade tributária incide na cobrança por licenças concedidas e pela prestaçãa de serviços à população (32% da receita total).
Quando o leão tem que virar papai Noel
De acordo com as estimativas de cobranças nas principais repartições de finanças do Estado, 85% das receitas tributárias do Estado tem origem na actividade económica residente nos 33 municípios, sendo transferida na quase totalidade para o Orçamento Geral do Estado (OGE). Em troca, o Fundo de Compensação Autárquica transferido para os municípios equivaleu somente a 1.5% da receita total do Estado em 2008. Jorge Gabriel tem feito estudos sobre o processo de autarcização em Moçambque e questiona como é que as autarquias podem tornar-se sustentaveis numa lógica em que o leão nunca aceita virar papai noel, não havendo espaço para a libertação, a favor dos municípios, dos espaços fiscais existentes nos seus próprios territórios”. Este estudioso levanta outra questão que tem a ver com a lógica distributiva desses fundos. Segundo ele, não tem obedecido ao volume de receitas que o Estado arrecada em cada território fiscal do município. Poe exemplo, os dados estatísticos revelam que em 2008 o município de Chókwe contribuiu mais para o OGE em relação a Chibuto. Porém, Chibuto recebe mais do FCA em relação a Chókwe. Em 2008, Chibuto recebeu um total de 8.832 milhões de meticais, contra 6.320 milhões de Chokwe.
Como aliviar o fardo?
José Chichava, antigo ministro da Administração Estatal em entrevista exclusiva, levatou dois aspectos estruturais e cruciais e que é importante reté-los no processo de autarcização. e que podiam minimizar o crónico problema de insustentabilidade autárquica, nomeadamente:
1- Que a escolha dos municípios não dependa do seu tamanho, ou seja, os próximos municípios escolhidos não devem ser de uma área muito grande, para, à medida que forem crescer, poderem ser alargados. o essencial é criar um núcleo municipal em cada cidade e estabelecer um período, por exemplo, de cinco anos, depois do qual estas entidades solicitarão ao Governo, o alargamento da área de jurisdiçao. Segundo Chichava, não é correcto que um município tenha uma área rural ou suburbana que cobre mais de 50% do total da área municipal. O que vai acontecer (e é o que acontece) é que a área rural vai ficar negligenciada e a urbana, cuja população é mais exigente, porque esclarecida, ficará benefciada, sendo que as taxas cobradas pela autarquia não terão em conta estas diferenciações. se assim fosse, ainda seguindo a lógica do Professor, as autarquias não teriam muitas obrigações e limitar-se-iam à região urbana, sendo que a rural ficaria na responsabilidade directa do Estado.
2- Não deixar que, mesmo depois dos 5 anos, o município alargue a sua área, de tal modo que, nas outras áreas se criem também municípios adjacentes, o que faria com que depois de algum periodo, a zona rural desaparecesse. É por isto que nalguns paises existem mais mais de 700 municipios. Na óptica de Chichava, o municipio de Maputo, por exemplo, é muito grande do ponto de vista de gestão, de tal forma que, se calhar fosse sensato, ter municípios em áreas como Catembe, Ponta D’Ouro e em outros distritos urbanos mais ou menos extensos.
Contexto situacional
O número 1 do artigo 276 da Constituição da República fixa que “as autarquias locais tem finanças e património próprios”. Este dispositivo legal e demais legislação autárquica (com destaque para a Lei 2/97 de 18 de Fevereiro) estabelecem também que “os municípios estão sujeitos à tutela administrativa do Estado, gozam de autonomia financeira, administrativa e patrimonial”.
Entretanto, tal não passa de declaração de intenções políticas, uma vez que, segundo João Baptista dos Santos, jurista e docente universitário, “estas estratégias programáticas estão condicionados por um quadro dominado pela escassez e rigidez de recursos a nível nacional e por um sistema orçamental e fiscal concentrado e centralizado”. Aliás, terá sido por isso que o estudo da Metier, uma empresa de consultoria e desenvolvimento, intitulado “Perfil dos Municipios em Moçambique (2004) refere que “o padrão actual das receitas autárquicas é bastante concentrado e dependente das transferências do Estado” no contexto do Fundo de Compensaçã Autárquica (FCA) (previsto no artigo 40 da Lei das Finanças autárquicas e “à excepção de alguns impostos locais, a actividade tributária incide na cobrança por licenças concedidas e pela prestaçãa de serviços à população (32% da receita total).
Quando o leão tem que virar papai Noel
De acordo com as estimativas de cobranças nas principais repartições de finanças do Estado, 85% das receitas tributárias do Estado tem origem na actividade económica residente nos 33 municípios, sendo transferida na quase totalidade para o Orçamento Geral do Estado (OGE). Em troca, o Fundo de Compensação Autárquica transferido para os municípios equivaleu somente a 1.5% da receita total do Estado em 2008. Jorge Gabriel tem feito estudos sobre o processo de autarcização em Moçambque e questiona como é que as autarquias podem tornar-se sustentaveis numa lógica em que o leão nunca aceita virar papai noel, não havendo espaço para a libertação, a favor dos municípios, dos espaços fiscais existentes nos seus próprios territórios”. Este estudioso levanta outra questão que tem a ver com a lógica distributiva desses fundos. Segundo ele, não tem obedecido ao volume de receitas que o Estado arrecada em cada território fiscal do município. Poe exemplo, os dados estatísticos revelam que em 2008 o município de Chókwe contribuiu mais para o OGE em relação a Chibuto. Porém, Chibuto recebe mais do FCA em relação a Chókwe. Em 2008, Chibuto recebeu um total de 8.832 milhões de meticais, contra 6.320 milhões de Chokwe.
Como aliviar o fardo?
José Chichava, antigo ministro da Administração Estatal em entrevista exclusiva, levatou dois aspectos estruturais e cruciais e que é importante reté-los no processo de autarcização. e que podiam minimizar o crónico problema de insustentabilidade autárquica, nomeadamente:
1- Que a escolha dos municípios não dependa do seu tamanho, ou seja, os próximos municípios escolhidos não devem ser de uma área muito grande, para, à medida que forem crescer, poderem ser alargados. o essencial é criar um núcleo municipal em cada cidade e estabelecer um período, por exemplo, de cinco anos, depois do qual estas entidades solicitarão ao Governo, o alargamento da área de jurisdiçao. Segundo Chichava, não é correcto que um município tenha uma área rural ou suburbana que cobre mais de 50% do total da área municipal. O que vai acontecer (e é o que acontece) é que a área rural vai ficar negligenciada e a urbana, cuja população é mais exigente, porque esclarecida, ficará benefciada, sendo que as taxas cobradas pela autarquia não terão em conta estas diferenciações. se assim fosse, ainda seguindo a lógica do Professor, as autarquias não teriam muitas obrigações e limitar-se-iam à região urbana, sendo que a rural ficaria na responsabilidade directa do Estado.
2- Não deixar que, mesmo depois dos 5 anos, o município alargue a sua área, de tal modo que, nas outras áreas se criem também municípios adjacentes, o que faria com que depois de algum periodo, a zona rural desaparecesse. É por isto que nalguns paises existem mais mais de 700 municipios. Na óptica de Chichava, o municipio de Maputo, por exemplo, é muito grande do ponto de vista de gestão, de tal forma que, se calhar fosse sensato, ter municípios em áreas como Catembe, Ponta D’Ouro e em outros distritos urbanos mais ou menos extensos.
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